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Grupo de cinegrafistas filmando para uma matéria. Autor Desconhecido

Lucas Rodrigues

São Paulo - 22 NOV 2020 - 00:00 BRT

O conceito de sensacionalismo pode ser definido como o nome que se dá para certa postura na comunicação em massa onde à notícia é transformada em espetáculo por possuir um caráter mercadológico, utilizando-se imagens que chocam tendem a segurar a atenção do público. O jornalismo policial vem em voga a um bom tempo mantendo o pedido da cartilha sensacionalista, os programas como Brasil Urgente, Cidade Alerta e Balanço Geral ocupam o horário vespertino trazendo audiências e números impressionantes, mostrando imagens de cadáveres, gatilhos psicológicos e pessoas na maioria das vezes desfavorecidas sendo colocadas em situações constrangedoras.

 

Nesta reportagem o El Pais, vai mostrar os resultados desse tipo de mídia que recria um espetáculo midiático e tentar entender a razão da existência desses programas na televisão. Quem nos ajuda nessa leitura convidamos, os jornalistas Luis Adorno, do portal Uol e Leonardo Martins da rádio Jovem Pan; Profa. Dra. Margibel de Oliveira palestrante na área de Oratória de casos sensacionalistas e Eduardo Canesin, doutor na área de ciências sociais na área social.

 

A professora Margibel Oliveira em 2015 realizou uma tese de doutorado em retórica argumentativa do discurso jornalístico por antecipação ao discurso jurídico neles ela analisava as peças das denúncias e das sentenças, além das notícias de crimes dos jornais selecionados, a respeito da morte de Isabella Nardoni e Eloá Cristina, em 2008. Esses acontecimentos deixaram claro a tese de que a imprensa sente-se no direito-dever de investigar, apurar fatos, e que, na maioria das vezes expõe pessoas, sentenciando em caráter definitivo.

 

Para Margibel ela muitas vezes a força midiática quando aplicada com o desejo de justiça frente aos crimes impactantes e uma dose de sensacionalismo pode gerar danos irreparáveis e erros grotescos na aplicação do Direito. “(...) um dos primeiros casos que me chamou atenção, bem como me chamou atenção o caso da Isabella Nardoni. Mas, saiu o caso do Lindemberg, porque eu me lembro de que a gente assistia a aquele espetáculo ao vivo. (...) Esses casos eu fui construindo na minha cabeça, com a ideia de como a mídia pressiona as autoridades para que elas tomem determinadas atitudes, ficando uma visão de pressão” disse.

 

Como previsto, esses dois casos houve repercussão imensa na mídia, no caso Nardoni, desta vez, foi possível recolher evidências que provassem a autoria dos acusados, resultando na condenação do pai e da madrasta da vitima.  Segunda Margibel neste caso o papel da mídia foi de interferir no devido processo legal, mesmo assim a forma assídua como à divulgação dos fatos era orientada despertava cada vez mais a indignação da população.

 

A violência se disseminou pela sociedade brasileira, se tornando um discurso bem comum na mídia, dessa forma ela causa interferências e causa danos às vezes irreparáveis. Para Eduardo Canesin, essas ações mostram um claro movimento de banalização do sofrimento, por mostrar uma insensibilização e tentar mostrar o sofrimento como algo banal, como a violência como algo corriqueira. “(...) seu choro será mostrado não para mostremos seu sofrimento, não para buscarmos uma empatia tentando te confortar ou compadecer, mas a gente vai mostrar seu sofrimento para justificar o ódio e a perseguição contra aquele que te causou esse sofrimento” disse.

 

Os meios de comunicação, de modo geral, colocam para o público determinados temas de seu interesse, como a questão da violência.  Para Eduardo a imprensa atualmente está tendo função considerável na construção da banalização da violência. “O foco deixa de ser no sofrimento da vítima e passa a ser sempre no agressor, temos que eliminá-lo para que não passar mais a ver sofrimento”, finalizou Canesin.

                                             

Obviamente, a imprensa se aproveitou do direito de liberdade de expressão nos dois casos. O que deveria ser uma função de utilidade pública passou a poder provocar certos efeitos de sentidos e até mesmo influenciar na formação de opinião.

 

Segundo Eduardo, os programas teriam que parar com infrações, começar a gerar um serviço de informações e não um desserviço “(...) até onde um jornalista que está apurando e ultrapassa essa linha e vira só um circo de horrores, quer dizer, mostrar o que de pior aconteceu sem promover um debate, essa discussão é crucial para que se possa fazer um bom jornalismo policial ou qualquer outro ponto” disse o doutor.

 

Segundo o jornalista Leonardo Martins, muitas dessas cenas influenciam e criam a cada dia uma cultura do medo e de influencias psicológicas. “Obviamente a cultura do medo está nesses programas televisivos, que o chamamos de “mundo cão”, que trás uma influencia psicológica nas pessoas e por isso mesmo é alvo de estudo há muitos anos. Violência da audiência e o interesse da desgraça chama atenção hoje e sempre”.

 

O seu companheiro de profissão Luis Adorno, completa a resposta dizendo que o medo por meio dos programas de televisão é claro, mas reforça que muitas coisas que a mídia expõe é um reflexo da sociedade, pois muitos já não se sentem seguros, principalmente no estado de São Paulo onde o índice de violência cresce exponencialmente. ‘‘As pessoas ficam com medo por meio dos programas de televisão que retratam o trabalho policial. Faço-te uma provocação: você acha que São Paulo é um estado seguro ou inseguro? Responda “para si mesmo a pergunta e, depois, entre no Atlas da Violência 2020 e veja qual a taxa de homicídios no estado”.

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